Bater
fotos é uma ação no tempo na qual alguma coisa é arrancada de seu próprio tempo
e transferida para um tipo diferente de duração.
Em geral se acredita que o que é capturado nesse ato está DIANTE da câmera.
Mas isso não é verdade.
Tirar fotos é uma ação em duas direções:
para a frente e para trás.
Sim, tirar fotos também "sai pela culatra".
Essa comparação nem é tão capenga.
Assim como o caçador ergue sua espingarda, faz pontaria no cervo a sua frente,
puxa o gatilho e, quando a bala sai do cano, é jogado para trás pelo coice da
arma, o fotógrafo, analogamente, é jogado para trás, para si próprio, quando
aperta o botão da câmera.
Uma fotografia é sempre uma imagem dupla, mostrando, à primeira vista, seu
objeto, mas, num segundo olhar - mais ou menos visível, "escondido atrás
dela", por assim dizer -, o "contracampo":
a imagem do fotógrafo em ação.
Porém, assim como o caçador não é atingido pela bala, mas apenas sente o coice
do disparo, essa contraimagem contida
em toda fotografia tampouco é capturada pelas lentes.
(Embora de algum modo permaneça inextricavelmente na imagem, como uma impressão
invisível do fotógrafo, que até chega a ser revelada na química da câmara
escura....)
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
Tirar fotos – Win Wenders
A visão do fotógrafo é que o diferencia, depende do repertório e da personalidade. Primeiro é preciso enxergar algo para depois registrá-lo.
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